Arquitetura

Quase 100 dias após incêndio, Belvedere segue sem cobertura emergencial e obras de restauro

Sharon Abdalla
Sharon Abdalla
12/03/2018 21:29
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Condição do prédio após o incêndio. Telhado ficou totalmente destruído. Foto: Aniele Nascimento / Gazeta do Povo | Gazeta do Povo

Na última sexta-feira (9), o Sindicato dos Arquitetos e Urbanistas do Paraná (SindARQ-PR) encaminhou ao governador Beto Richa e à Coordenação de Patrimônio Cultural (CPC) notificação pedindo providências emergenciais quanto à cobertura do Palácio Belvedere, uma das construções mais emblemáticas de Curitiba que teve seu telhado e parte de sua estrutura destruídos em um incêndio no último dia 6 de dezembro.
Passados mais de três meses do incidente, como aponta o documento, as partes internas do imóvel e sua estrutura seguem sujeitas às intempéries do tempo (como sol e os grandes volumes de chuva que têm atingido a cidade), uma vez que nenhum tipo de cobertura, mesmo que provisória, foi instalada no local.
“Estamos próximos de completar cem dias do incêndio e a área, basicamente, só foi isolada. Nenhuma obra emergencial foi feita para se evitar que a construção fique sob sol e chuva. Isso prejudica a possibilidade do restauro e pode inviabilizá-lo dependendo do tempo em que [o prédio] ficar exposto”, destaca Ramón Bentivenha, advogado do SindARQ-PR.
Incêndio ocorrido no último mês de dezembro danificou boa parte da estrutura do prédio. Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo
Incêndio ocorrido no último mês de dezembro danificou boa parte da estrutura do prédio. Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo
O arquiteto Cláudio Maiolino, especialista em patrimônio, concorda e explica que a exposição do madeiramento [como o do piso e das escadas], do reboco e da pintura às intempéries pode agravar o grau de deterioração dessas instalações e elevar o custo de futuras intervenções no prédio.
“A primeira providência a ser tomada deveria ter sido a de escoramento e proteção do prédio. Deixá-lo no tempo enquanto se discute [o que fazer] não é a melhor solução”, destaca o arquiteto ao se referir ao projeto de restauro da edificação que vem sendo estudado pelo governo do estado e a prefeitura de Curitiba.
Procurado pela reportagem, o engenheiro Sérgio Krieger, chefe da Coordenação de Patrimônio Cultural (CPC), limitou-se a dizer que, após receber a notificação, encaminhou-a à prefeitura, que é órgão responsável por responder a estas questões.
“Conforme é de conhecimento de todos, o imóvel é de propriedade do estado, mas foi cedido à Academia Paranaense de Letras [APL] e terá seu restauro feito pela prefeitura. O imóvel não está descuidado. Infelizmente, às vezes a burocracia atrapalha”, acrescenta Krieger.
Também ouvida pela reportagem, a Secretaria Municipal do Meio Ambiente (SMMA), pasta à frente dos assuntos relacionados ao Belvedere, informou que o projeto para a execução da cobertura provisória está sendo concluído e que esta deve ser executada até o final deste mês de março.
Em 2017, a prefeitura de Curitiba liberou mais de R$ 1 milhão para a restauração do Belvedere. Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo
Em 2017, a prefeitura de Curitiba liberou mais de R$ 1 milhão para a restauração do Belvedere. Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo
“Temos a preocupação no sentido de executarmos a cobertura provisória, mas estamos trabalhando com uma edificação tombada, em cuja estrutura não podemos apoiar [qualquer tipo de estrutura]. Alguma coisa pode ter sido prejudicada, mas não era possível fazer [uma cobertura] de forma tão emergencial assim”, acrescenta o engenheiro Reinaldo Pilotto, superintendente de obras e serviços da SMMA.
O advogado do SindARQ-PR destaca que, caso nada seja feito pelos agentes públicos no prazo de uma semana após o recebimento da notificação, não restará ao sindicato outra opção que não a de ingressar com uma ação civil pública pedindo a instalação da cobertura e posterior responsabilização dos agentes que “permaneceram inertes durante todo este período”.

Restauro

O projeto para a restauração do Palácio Belvedere está em fase de finalização e deve ter o seu processo de licitação para as obras aberto no próximo mês de abril, segundo o superintendente de obras e serviços da SMMA,  Reinaldo Pilotto.  “Pretendemos iniciar a obra de restauro até o mês de maio. O [orçamento] já está liberado, mas vai precisar de um incremento devido ao aumento da obra [em decorrência do incêndio]”, acrescenta.
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Em junho de 2017, a prefeitura de Curitiba liberou R$ 1.073 milhão para a restauração do Palácio Belvedere. Na época, a presidente da comissão de avaliação do patrimônio cultural, Ana Márcia Gonzalez, explicou que a verba viria da “venda de cotas do potencial construtivo da edificação com vistas à obtenção de verba para o restauro”. Com os danos causados pelo incêndio, a estimativa é a de que o valor da obra seja reajustado para cerca de R$ 1,5 milhão, como conta Ernani Buchmann, presidente da Academia Paranaense de Letras (APL).

O imóvel

O Palácio Belvedere foi construído em 1915 pelo então prefeito de Curitiba e engenheiro Cândido de Abreu. Ele funcionava como uma espécie de mirante, uma vez que a região do São Francisco é um dos pontos mais altos da capital. Juntamente com as Ruínas de São Francisco, a edificação compõe o conjunto da Praça João Cândido, tombado a nível estadual em 1966.
O prédio também é reconhecido pela qualidade de seus elementos arquitetônicos típicos do art nouveau, como os desenhos de suas portas e janelas e a composição das varandas. Após o restauro, a previsão é a de que um café escola do Sesc (Serviço Social do Comércio) funcione no local.

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