Arquitetura
“Casas pela metade” são solução de arquiteto premiado para problema habitacional
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Foto: reprodução/99 Percent Invisible
O que é melhor: ter uma casa menor e de qualidade ou uma maior, mas com mais chances de apresentar problemas? Se depender do arquiteto Alejandro Aravena, vencedor do Pritzker Prize de 2016, definitivamente a resposta é a primeira opção.
O escritório de arquitetura Elemental, liderado por Aravena, desenvolveu uma ideia baseada nessa premissa durante a construção de um novo plano diretor na cidade de Constitución, no Chile. Em 2010, a cidade foi atingida por um terremoto de magnitude 8,8 — segundo maior do mundo nos últimos 50 anos —, que matou mais de 500 pessoas e destruiu 80% dos prédios da cidade.
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Como a construção de novas casas individuais teria um alto custo, a solução encontrada foi construir para os moradores apenas o suficiente. O escritório lançou a ideia de construir apenas metade das casas a partir do investimento do governo chileno, deixando a cargo dos próprios moradores a construção da outra metade, para quando pudessem e desejassem aumentar o imóvel. O projeto foi aplicado no bairro de Villa Verde.
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O projeto das casas
Os imóveis têm dois andares e são divididas pela metade. Uma delas fica totalmente pronta para morar, enquanto a outra tem um espaço vazio, a ser construído. Nessa segunda metade, os moradores pagam pela construção, mas ganham a liberdade de mudar a planta do projeto. O sistema construtivo das casas de Villa Verde é pensado para não cair em situações de abalos sísmicos ou inundações.
A iniciativa gerou polêmicas pelo fator surpreendente do projeto, sob o argumento de que a possibilidade de receber uma casa inteira é melhor do que apenas a metade. Mas o fato é que, desde 2016, quando foi iniciado o projeto, várias casas já ganharam sua segunda parte, garantindo sua eficiência.
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Segundo o site 99 Percent Invisible, a ideia de construir uma casa aos poucos não é exatamente uma novidade na área. A abordagem tem suas raízes em uma metodologia de construção popularizada pelo arquiteto John F. C. Turner em um ensaio publicado em 1972, “Habitação como um verbo”. Nele, Turner argumenta que a habitação não é uma unidade estática que é embalada e entregue às pessoas. Em vez disso, ela deve ser concebida como um projeto contínuo, no qual os moradores são co-criadores — o que certamente soa como uma inspiração para o projeto concretizado por Aravena.
A Elemental já havia experimentado casas de baixa renda em Iquique, Chile, que seriam construídas a 7,5 mil dólares por unidade para cem famílias.