Arquitetura

Esquecida por anos, única casa de Vilanova Artigas em Londrina será reformada

Sharon Abdalla
Sharon Abdalla
28/01/2018 12:00
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Foto: Google Maps/Reprodução

Fechada durante anos e alvo de vandalismo, a residência Milton de Menezes, única casa assinada pelo mestre Vilanova Artigas em Londrina, ganhará vida nova. Uma reforma, encampada pela jornalista e empresária Denise Gentil, promete devolver o icônico imóvel à cidade até o final de março, data prevista para que ele receba as instalações da Ciranda, loja de música, literatura e brinquedos de sua propriedade.
“Estamos no 13º ano da loja e o objetivo era mudá-la de endereço visando sua ampliação. Um amigo ligado aos temas do patrimônio sugeriu a possibilidade de mudarmos para esta casa. Além de uma loja de brinquedos, somos um espaço cultural, o que [casou] com toda a história e afetividade do imóvel”, conta Denise.

A casa

Construída no início da década de 1950 para o então prefeito de Londrina Milton de Menezes, a casa foi a primeira de arquitetura modernista e o único projeto residencial assinado por Artigas na cidade. “O prefeito Milton foi quem trouxe o Artigas, e as construções modernas, para Londrina”, lembra Denise. Outras obras que levam a assinatura do mestre da arquitetura moderna na cidade são a antiga rodoviária, a Casa da Criança e o Cine Teatro Ouro Verde. “Tudo isso trouxe um ar de modernidade que Londrina e restante do interior não tinham”, completa a empresária.
Com 300 m² de área e ocupando um terreno com o dobro deste tamanho, a casa Milton Menezes traz na fachada as características que marcam o trabalho de Artigas. Entre elas estão os rasgos em vidro do chão ao teto e o telhado “borboleta”, no qual as águas correm para o centro do imóvel.
A finalidade comercial para a qual a casa foi destinada fez com que muitos desses traços se perdessem em seu interior. Originalmente, a planta trazia os ambientes de serviço, como a cozinha, com metragens menores das praticadas a época, e destacava a integração e amplitude dos espaços sociais.
“Algumas paredes já foram derrubadas e o piso, que antes era de taco, foi substituído por cerâmica. Não vamos reverter as transformações que já foram feitas no imóvel, mas iremos manter tudo o que resta de original, como os azulejos”, conta Denise. Ela lembra que a obra tem como finalidade a reforma e adequação do espaço para as atividades da loja, e não o restauro do imóvel. “Não tenho cacife para realizar uma obra de restauro. A casa é listada [como patrimônio material de Londrina], mas não é tombada pelo município’, completa.

Memória

Além de reformar o imóvel, Denise conta que a “nova” Ciranda terá um espaço destinado à preservação e divulgação da história da casa e do trabalho que Vilanova Artigas desenvolveu em Londrina. A reforma ainda está sendo registrada pelo jornalista e professor universitário Luciano Pascoal e servirá de base para um documentário sobre o trabalho realizado pelo arquiteto na cidade.
“Essa casa rompeu alguns paradigmas na cidade. Ela está muito presente na memória afetiva das pessoas. Em uma das primeiras vezes em que a abri, um rapaz chegou, pôs as mãos na cintura, bravo, e falou: ‘vocês sabem que esta casa é do Artigas, né?’. Brinco que vou colocar um banco aqui fora para escutar as histórias que os passantes têm com e sobre ela”, completa Denise.

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