Arquitetura
Casa modernista dos anos 1950 traz estilo carioca para Curitiba
Fachada da Casa José Barbosa, na Avenida João Gualberto, é um exemplar da arquitetura modernista carioca. Fotos: Leticia Akemi/Gazeta do Povo | Leticia Akemi
Coisa mais linda, mais cheia de graça, a Casa José Barbosa no caminho da Rua João Gualberto. Construída em um terreno na esquina com a Rua Padre Antônio, o imóvel que é uma Unidade de Interesse de Preservação (UIP), de 800 m², chama atenção pela imponência e características modernistas cariocas escancaradas nas pastilhas azuis e vermelhas que compõem a fachada.
Projetada pelo arquiteto, artista plástico e muralista carioca Ernani Mendes de Vasconcellos (1912-1988), a casa é um projeto de 1955 e foi a residência da família do madeireiro argentino José Barbosa. Entre as características do modernismo carioca mais específicas estão a inclinação do telhado no estilo borboleta; o uso de pilotis, liberando o espaço sob o edifício; os panos de vidro na fachada e a integração da arquitetura com o paisagismo, que, aliás, recebeu dicas de espécies e intervenções ilustres de Burle Marx.
“O Ernani de Vasconcellos era da mesma ‘turma’ de Lúcio Costa, Sérgio Bernardes e Oscar Niemeyer. A assinatura dele está em obras como o Edifício Gustavo Capanema (o MEC), no Rio de Janeiro, considerado um dos primeiros prédios modernistas do Brasil”, explica o arquiteto e professor da PUCPR Luis Salvador Gnoato.
História
Se a estrutura externa impressiona, observar o interior é um deslumbre. A proprietária, filha de José Barbosa, Dulce Maria Barbosa Roderjan, passeia pelos detalhes intocados há mais de 50 anos, e lembra da amizade que permeou a construção.
Neta da dramaturga Didi Fonseca, um dos grandes nomes do teatro paranaense no início do século 20, Dulce conta que a avó morou no Rio no fim dos anos 1940 e conheceu muitos intelectuais cariocas. “Ela conviveu com Aurélio Buarque de Holanda, com o poeta Álvaro Moreira e com os expoentes da arquitetura modernista, entre eles o Ernani.”
A amizade se estendeu à família e, quando o pai de Dulce veio para Curitiba, surgiu o convite para o projeto da casa. “Meu pai sempre foi um vanguardista e o projeto conversava com o perfil dele. Além disso, por causa do trabalho com a madeira (a família tinha uma laminadora de jacarandá), os móveis foram e ainda são um espetáculo à parte”, orgulha-se. O mix de madeiras cria espaços com texturas e cores diversas. Além do jacarandá, há louro nos revestimentos e piso de ipê. “A casa tem a elegância inconfundível da escola carioca do modernismo”, diz Gnoato.
A lógica de circulação é bastante particular. Quase todos os ambientes se comunicam com a cozinha, há até uma escada que parte dela e chega até os quartos. “A funcionalidade é surpreendente e os detalhes de acabamento são impressionates. Gosto de citar o desenho côncavo do teto, executado em concreto; o projeto da cozinha com móveis em concreto e revestidos de azulejo; e o projeto de iluminação com luz indireta, muito moderno para a época”, aponta Dulce. A assinatura de Ernani é encontrada ainda em dois murais – um na entrada e outro no bar – e em pinturas feitas para compor o closet.
Carreira
Ernani Mendes de Vasconcellos formou-se em arquitetura pela Escola Nacional de Belas Artes em 1933. No retorno de uma temporada na Europa, engaja-se na equipe de Lucio Costa e desenvolve o projeto para o Edifício Gustavo Capanema, o MEC, marco referencial da Arquitetura Moderna Brasileira.
LEIA MAIS