Arquitetura paranaense
Arquitetura
Casa icônica do brutalismo curitibano, residência Manoel Coelho está à venda
Casa MIC, projetada por Manoel Coelho para ele e sua própria família, tem como principal característica o contraste entre concreto e cores vivas, que amenizam a aridez do concreto e trazem uma paisagem mais alegre. | Manoel Coelho Arquitetura/Reprodução
A Casa MIC, projetada pelo arquiteto catarinense radicado em Curitiba Manoel Coelho para ele e sua própria família em 1981 no bairro São Lourenço, é considerada um dos principais exemplares da boa arquitetura brutalista paranaense, como atesta o arquiteto Roberto Tourinho Fontan, que leciona na Universidade Positivo e atualmente cursa doutorado na Universidade de São Paulo (USP) para estabelecer as diferenças e semelhanças entre a linguagem brutalista paulista e paranaense. Agora a casa foi posta à venda por R$ 2,9 milhões pela SIS3 Imóveis.
Procurado pela reportagem, o arquiteto Manoel Coelho, 80 anos, conta que a casa de 495 m² de área total ficou grande demais só para ele e a esposa, depois que os três filhos saíram de casa. Daí partiu a decisão de colocar o imóvel à venda.
Segundo Fontan, que já estudou a história e a linguagem da casa junto com os estudantes Isabela Gadens e Natan Roballo Durigan em 2017, uma das principais características da Residência Manoel Coelho é o contraste entre concreto e cores vivas, que amenizam a aridez do material e trazem uma paisagem mais alegre.
O gradil da entrada da moradia é vermelho, os brises da janela em fita da rua são amarelos, no interior da casa diversos detalhes em azul e um piano vermelho.
Outro ponto importante da linguagem da residência é o concretismo, que se traduz na composição em formas geométricas abstratas, como a caixa da água, que é um prisma retangular.
"A casa se utiliza de uma estratégia bem característica do brutalismo: um volume único. Um segundo aspecto a se observas é que ela é colada nas divisas laterais, coincidindo com os muros. Ou seja: o imóvel não tem fachadas laterais, mas uma bem discreta para a rua e outra transparente, bem aberta ao fundo do lote", explica Fontan.
A casa também oferece aberturas zenitais para entrada de luz natural e laje inclinada para facilitar o escoamento da água, por exemplo.
Outro detalhe que torna a casa única é que sua organização é formada por quatro meios níveis, com o pé direito bem mais baixo que o normal, totalizando apenas dois pavimentos.
São nesses meios níveis que se distribuem os setores social, íntimo e de serviços, interligados visualmente. "Os ambientes sociais se abrem para o jardim dos fundos, onde uma generosa varanda curva-se para abraçar duas araucárias", afirma um descritivo da obra no site da MCA Arquitetura.
Embora muitos arquitetos reconheçam a originalidade da casa e a liguem esteticamente à produção de Vilanova Artigas ou Rino Levi, foi nos traços de Ruy Ohtake que Manoel se inspirou para criar sua própria casa, seu próprio manifesto arquitetônico, como confidenciou há alguns anos para Fontan.