Arquitetura

Famosa Casa de Vidro, construída nos anos 1960 em São Paulo, ganha nova vida

Sharon Abdalla
Sharon Abdalla
26/04/2018 13:52
Thumbnail

Foto: Sharon Abdalla/Gazeta do Povo

Um dos ícones do modernismo brasileiro, muito já se falou (e ainda se fala) sobre a Casa de Vidro, assinada pela arquiteta ítalo-brasileira Lina Bo Bardi, em São Paulo. Até o dia 30 de junho, a exposição “A Casa como Casa”, em cartaz no endereço, permite mais do que conhecer as impressionantes soluções construtivas do projeto. Reproduzindo a decoração da área social do imóvel tal como era nos anos 1990, década em que faleceram seus ilustres moradores, o casal Lina e Pietro Bardi, ela convida os visitantes a uma viagem no tempo, na qual é perfeitamente possível se sentir em casa.
HAUS visitou a mostra à convite da By Kamy (apoiadora da exposição) e do Instituto Bardi, que tem sede na residência, no último dia 12 de abril, data de sua abertura para o público. A visita começa já no cruzar o portão do número 200 da Rua General Almério de Moura, no Morumbi. Na antiga garagem da residência, construída na década de 1960, fotos e vídeos introduzem os visitantes na história da vida e da obra do casal, que se confunde com a da própria casa.
Escondida pelas árvores, ela vai se revelando aos poucos ao subir da calçada que dá acesso à escada de entrada da residência, que parece flutuar em meio à vegetação. Em frente dela, um espaço destinado à exposição de obras de arte dá o tom do que se vai encontrar no interior do imóvel: uma mostra de obras de diferentes estilos, períodos e autores, uma referência do casal à história das artes e do design brasileiro e mundial.

A casa

Construída em 1950, a Casa de Vidro tira partido do desnível natural do terreno e faz dele um dos principais atributos do projeto: a implantação da área social do imóvel sobre pilotis de aço, preenchidos com concreto, que eleva a entrada principal da residência em relação ao solo, fazendo-a “flutuar”.
A vista privilegiada, que evidencia o contato com a natureza, tem nas esquadrias de vidro que serve de fechamento para o espaço em forma de “U” sua principal aliada. Sem guarda-corpo (à época não havia legislação referente à obrigatoriedade do item de proteção) e se abrindo em grandes janelas, elas fazem com que o imenso jardim que envolve o imóvel seja quase um “item de decoração”.
O mobiliário é outro ponto de destaque da área social. Nela, peças assinadas pela própria Lina Bo Bardi (como as cadeiras Bowl e Tripé, ou poltronas e banquetas em ferro, sempre com os pés azuis), compartilham a atenção com a chaise Longue, de Le Corbusier, e a poltrona e puff Charles Eames, do casal de designers norte-americanos Charles e Ray Eames, e destacam a admiração dos Bardi pelas obras de seus contemporâneos.
Durante o dia, a iluminação natural e o verde da vegetação são o pano de fundo das obras e peças de mobiliário. À noite, a iluminação de todo o espaço social, assim como dos dormitórios, corredores e banheiros, provém de luminárias de piso e arandelas desenhadas pela própria Lina (e também azuis). O tom se repete no piso, com acabamento pastilhado. O revestimento também está presente no piso e paredes do banheiro social e da suíte e na cozinha. A madeira aparece apenas no parquet do corredor, closet e nos dormitório do casal.
Nele, assim como nos demais ambientes da casa, a simplicidade impera. Não fossem as obras de arte, muitas delas sacras (mais pelo teor artístico do que pela religiosidade de seus proprietários), o ineditismo do projeto (que fez dele um ícone da arquitetura nacional) e seus ilustres moradores, poderia-se dizer que se trataria de uma residência comum.

O exterior

A Casa de Vidro foi construída para servir de residência dos Bardi no loteamento da antiga Fazenda de Chá Muller Carioba, na região do Morumbi, quando o bairro ainda não era habitado.
Com 7 mil m² de área, o terreno tem na vegetação, com boa parte do paisagismo desenhado e mantido pela própria Lina Bo Bardi, sua principal atração – imagens antigas e atuais do imóvel demonstram com clareza as modificações e desenvolvimento das plantas com o passar das décadas. A exuberância é tamanha que, imerso no maciço vegetal, onde só se ouve o canto dos pássaros e, vez ou outra, um carro passando pela rua, é possível se esquecer do trânsito e da vida agitada que caracteriza a cidade paulistana.
A mata é cortada por diversas trilhas abertas e decoradas ao longo dos 40 anos em que o casal morou na residência. É possível caminhar por algumas delas, mas o educador que atende aos visitantes sempre alerta sobre os cuidados e atenção necessários ao percurso, principalmente devido ao terreno acidentado e à possibilidade de se cruzar com alguma animal.
Próximas da Casa de Vidro, algumas dessas trilhas levam à casa do caseiro, construída também na década de 1950, e ao ateliê, erguido posteriormente em madeira e onde a arquiteta trabalhou por muitos anos. Mais do que um exercício de arquitetura e residência dos Bardi, a Casa de Vidro foi, durante décadas, ponto de encontro de intelectuais, artistas, políticos e galeristas íntimos do casal.
O imóvel foi tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat) em 1987, a pedido do casal Bardi, e desde 1990  abriga a sede do Instituto Lina Bo e P.M. Bardi, que tem por objetivo promover o estudo e a pesquisa nas áreas de arquitetura, design, urbanismo e arte popular brasileira.
As visitas ao imóvel acontecem de quinta-feira a sábado, em horários específicos: 10h, 11h45, 14h e 15h30. Os ingressos custam R$ 20,00 (inteira) e R$ 10,00 meia (estudantes, professores e terceira idade).

LEIA TAMBÉM