Arquitetura
Patrimônio da Humanidade, Cartagena corre risco por avanço imobiliário
Foto: Reprodução/Pinterest
A Colômbia acaba de receber um ultimato da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco): o país latino-americano deve tomar providências para restaurar a paisagem original tombada do centro histórico de Cartagena das Índias ou ver a cidade perder o título de Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade, que ostenta desde 1984.
O pivô da bronca é a construção do complexo de habitação social Aquarela, com 4 torres, para 950 famílias, que, mesmo com uma única torre pronta, alterou drasticamente o conjunto tombado, que engloba o porto, a fortaleza de San Felipe e o restante do centro histórico.
Segundo nota de Patricia Galindo Salim, diretora executiva do Conselho Gremial de Bolívar, entidade responsável pela aprovação de construções na cidade, a “situação é delicada e consequência da falta de atenção das autoridades nacionais e territoriais, que não atuaram como ordenam os princípios de planejamento e legalidade da Constituição da Colômbia”.
Por terem autorizado a obra e concedido todas as licenças de maneira equivocada, por meio de uma ação pública, o empreendimento foi embargado e sua construção paralisada por ordem da Justiça. A intenção de Salim é de esclarecer todas as normas para evitar situações similares no futuro, que possam debilitar a proteção patrimonial e o interesse de empresários e compradores da construção civil no centro histórico.
Opinião divergente
De acordo com uma das construtoras responsáveis pelo empreendimento, a Promotora Calle 47 S.A.S., o projeto não põe em risco a permanência da cidade na lista de Patrimônio da Humanidade da Unesco. “A permanência da cidade na lista implica um trâmite legal composto de várias etapas, e está relacionada ao estado de conservação atual do porto, das fortificações e de seus outros monumentos, e não de projetos imobiliários que surgem cumprindo com as normas vigentes”, protesta por meio de nota a empresa para o jornal local El Universal.
A Associação de Coproprietários do Edifício Aquarela veio a público pedir para que a construção volte a ser autorizada. “É uma injustiça o que o Ministério da Cultura está fazendo com nosso desenvolvimento e com nosso direito a uma habitação digna”, afirma em vídeo o presidente do grupo, Gastón Gaitán. “Mais do que os recursos, são os nossos sonhos de ter a própria casa que estão em jogo, por negligência do estado”
A Prefeitura de Cartagena informa que irá rever os projetos em sua câmara técnica de patrimônio histórico e cultural. Ao todo, licenças de 151 projetos serão revistos. Mas as autoridades não sabem o que fazer com a torre que já foi levantada e que abrigaria famílias de outras edificações que estão a ponto de colapsar. O próximo passo seria a demolição da edificação.