Arquitetura
Em um quilômetro, Rua Emiliano Perneta revela contrastes de ocupação urbana

Arquitetura da Rua Emiliano Perneta impressiona pelos contrastes. Foto: Hugo Harada/Gazeta do Povo | Gazeta do Povo
O cruzamento com a Rua Visconde de Nácar é um marco na Rua Emiliano Perneta, no Centro de Curitiba, via com cerca de um quilômetro de extensão que liga a região ao bairro Batel. Da Praça Zacarias, onde começa, até o cruzamento, observa-se uma via com muitos pontos comerciais e prédios com pouca conservação. Até o Batel, entretanto, o número de residências aumenta e a qualidade dos prédios melhora.
Para o professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Emerson Vidigal, que possui um escritório de arquitetura no centro da cidade, essa é uma característica da região. “Quanto mais abandonado e menos moradores, mais difícil manter o prédio conservado”. Com isso, muitas casas e prédios estão depredados. “Dessa forma, regiões como essa da Emiliano Perneta ficam com maior concentração comercial”, afirma.

Ainda assim, a primeira metade da rua tem seu charme. O Instituto de Educação do Paraná e o Museu de Arte Contemporânea chamam a atenção. Vidigal destaca a discrepância entre a data em que prédios foram construídos e a corrente arquitetônica ao qual estão ligados. “Curitiba não é uma cidade de vanguarda na arquitetura. Veja o prédio do Instituto de Educação, por exemplo. Ele é de 1922, quando estávamos defendendo o modernismo, mas seu estilo é eclético. O estilo modernista só vai chegar aqui perto de 1970”.

Outras instituições de ensino podem ser encontradas ao longo da via. Porém, esse tipo de ocupação já foi maior: o antigo prédio da Escola de Música e Belas Artes do Paraná (Embap) e a antiga sede da Unicuritiba (atualmente utilizada por um hotel), por exemplo, perderam este significado.
Perto da Rua Visconde de Nácar e em direção ao Batel, o padrão da Rua Emiliano Perneta muda. De essencialmente comercial, passa a uma mistura de comércio, residências, escritórios e áreas de lazer. Quem passa pela via neste trecho pode encontrar vida até mesmo durante os domingos. “O segredo da vitalidade urbana é gente morando no local”, afirma o arquiteto.
Neste trecho, mesmo durante dias de pouco movimento na cidade, é comum encontrar estabelecimento comerciais abertos, para que a demanda dos moradores da redondeza seja atendida, conforme explica o arquiteto. “O morador nem precisa sair da rua para almoçar”.

Também é possível observar prédios altos, de construção mais contemporânea (depois dos anos 2000) com casas antigas que continuam preservadas (as Unidades de Interesse de Preservação – UIP). Esse contraste é comum, segundo o arquiteto, mesmo que haja interesse em preservar construções antigas. “É uma evolução natural e é difícil manter a região com uma característica, se existem terrenos não utilizados e o interesse imobiliário é grande”.

Mesmo que a evolução urbana ocorra, as UIPs ainda assim resistem ao avanço das construções, graças a incentivos que a própria prefeitura concede aos proprietários para conservação dos imóveis.
Ao longo de todo o trecho, duas características são bem comuns: o excesso de poluição visual gerada pela fiação elétrica e a falta de árvores na via. “Temos um problema aqui que a calçada da rua é muito estreita e parte dela é usada para os pedestres e outra parte para os postes. É difícil ter espaço para arborização”, diz Vidigal. Na opinião dele, só seria possível mais áreas verdes em vias como essa se ela fosse reestruturada.






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