Arquitetura

As nove casas em que Dom Pedro II dormiu quando visitou o Paraná

Carolina Werneck*, Luan Galani
23/05/2017 23:03
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Foto: RPC/Reprodução

No dia 18 de maio de 1880 o então imperador Dom Pedro II e sua esposa, Dona Tereza Cristina, desembarcaram em Paranaguá para uma visita à Província do Paraná. O casal imperial passou 20 dias conhecendo diversas cidades paranaenses.
A visita foi registrada pelos jornais da época e também pelo próprio Dom Pedro, em seus diários. As viagens entre um povoado e outro eram longas e cansativas. A comitiva imperial usava carruagens e carroças para cruzar estradas que, por causa da chuva, tinham muita lama. O frio de maio também não deu trégua durante toda a visita. Alguns registros falam sobre acidentes com as carruagens, cavalos que morreram no trajeto e trechos em que os cocheiros se perderam.
O roteiro completo passou por nove localidades, entre cidades e vilas. No caminho, o imperador aproveitou para visitar colônias de imigrantes, fazendas e pontos de parada, sempre se hospedando nas casas de nobres moradores locais. Muitas são as lendas com origem nessa visita, mas HAUS levantou nove residências que, de acordo com os registros oficiais, realmente abrigaram o Imperador.
Paranaguá
Quem teve a honra de receber a comitiva logo após o desembarque no Porto de Paranaguá foi Manuel Antônio Guimarães, o Visconde de Nácar. De acordo com a Prefeitura de Paranaguá, o palacete do Visconde foi construído por volta de 1840. O prédio tem estilo neoclássico, com todas as comodidades e luxos disponíveis à época.
Alguns historiadores afirmam que a construção tinha o objetivo de ser a sede do governo da província e que o Visconde de Nácar tinha a pretensão de ser o presidente da província. Mais recentemente, o edifício abrigou a Prefeitura Municipal e, posteriormente a Câmara de Vereadores. O palacete é tombado pelo Patrimônio Histórico e Artístico do Paraná. Nos fundos, os vestígios de uma senzala lembram que, além de influente político, o Visconde de Nácar também era comerciante de escravos.
Fachada do Palacete Visconde de Nácar, onde Dom Pedro II se hospedou quando visitou Paranaguá, em 1880. Foto: Prefeitura Municipal de Paranaguá/Divulgação
Fachada do Palacete Visconde de Nácar, onde Dom Pedro II se hospedou quando visitou Paranaguá, em 1880. Foto: Prefeitura Municipal de Paranaguá/Divulgação
Interior do Palacete Visconde de Nácar, onde Dom Pedro II se hospedou quando visitou Paranaguá, em 1880. Foto: Prefeitura Municipal de Paranaguá/Divulgação
Interior do Palacete Visconde de Nácar, onde Dom Pedro II se hospedou quando visitou Paranaguá, em 1880. Foto: Prefeitura Municipal de Paranaguá/Divulgação
Antonina
Antonina guarda, até hoje, muitos edifícios que já existiam na época em que a cidade recebeu o imperador. O mais nobre deles talvez seja a sede atual da Prefeitura, na rua XV de Novembro, 150. Foi ali que Dom Pedro e Dona Tereza Cristina se hospedaram há 137 anos. Em 1880, o local foi construído por ordem do Coronel Líbero Guimarães.
O estilo arquitetônico é eclético e o prédio está bem conservado. Na fachada, uma placa relembra os ilustres hóspedes imperiais. Além deles, diz-se que outras celebridades já visitaram o palacete, entre elas Santos Dumont e Olavo Bilac.
Detalhes do interior da Prefeitura de Antonina, onde Dom Pedro se hospedou quando visitou a cidade. Foto: Arquivo Gazeta do Povo
Detalhes do interior da Prefeitura de Antonina, onde Dom Pedro se hospedou quando visitou a cidade. Foto: Arquivo Gazeta do Povo
Fachada da Prefeitura de Antonina, antiga residência do Coronel Líbero Guimarães. Foto: Arquivo Gazeta do Povo
Fachada da Prefeitura de Antonina, antiga residência do Coronel Líbero Guimarães. Foto: Arquivo Gazeta do Povo
Morretes
Quem passa em frente à casa que hospedou Dom Pedro II em Morretes provavelmente não imagina que na história do local há passagem tão importante. O prédio fica quase ao lado do Hotel Nhundiaquara, o mais conhecido da cidade, construído no século XVII. Na fachada não há menção à visita imperial.
Curitiba
Em 1880, a casa do Comendador Antonio Martins Franco era uma das residências mais luxuosas de Curitiba. O casarão ficava na atual Praça Tiradentes, na esquina da rua Monsenhor Celso, onde hoje funciona uma loja de departamentos. Enquanto a estrutura externa do palacete em frente foi mantida, nada restou da construção que recebeu o imperador e sua comitiva.
Na capital, Dom Pedro visitou a Cadeia Municipal, o Museu Paranaense e a Chácara Capanema, onde hoje está o Jardim Botânico. Ele também inaugurou o edifício da Santa Casa de Misericórdia, no centro da cidade.
Campo Largo
Também em Campo Largo não há vestígio da casa que recebeu a família imperial. De acordo com os registros, a residência em que a comitiva se hospedou pertencia ao Capitão José Olinto Mendes de Sá. O prédio ficava onde atualmente está o Colégio Sagrada Família. Da época em que Dom Pedro passou por ali resta apenas a Fonte da Saudade. A fonte já foi responsável por boa parte do abastecimento de água da cidade.
Como era a Fonte da Saudade, em Campo Largo. Atualmente, ela está na praça em frente ao Colégio Sagrada Família. Foto: Prefeitura de Campo Largo/Divulgação
Como era a Fonte da Saudade, em Campo Largo. Atualmente, ela está na praça em frente ao Colégio Sagrada Família. Foto: Prefeitura de Campo Largo/Divulgação
Palmeira
De volta à estrada, Dom Pedro II seguiu com destino a Palmeira, parando diversas vezes pelo caminho. A ponte sobre o Rio dos Papagaios, posteriormente batizada de Ponte Dom Pedro II, foi um dos pontos que chamaram a atenção do visitante.
Já em Palmeira, a comitiva foi recebida no Solar de Jesuíno Marcondes, então Conselheiro Imperial. Mas, nos diários de Dom Pedro, o imperador afirma que ficou hospedado na casa da Baronesa do Tibagi. As anotações descrevem uma casa próxima a um rio, o Rio Monjolo, que passa atrás do Solar. A confusão se dá porque Marcondes, filho da baronesa, teria feito parecer que a casa pertencia a ela para dar à mãe a honra de hospedar o casal imperial. Na realidade, de acordo com o Instituto Histórico e Geográfico de Palmeira, a Baronesa morava perto da Praça da Matriz. O Solar ainda existe e, atualmente, abriga o acervo do Museu Histórico de Palmeira Dr. Astrogildo de Freitas.
Vista do Solar de Jesuino Marcondes, que recebeu o casal imperial em Palmeira. Foto: Prefeitura Municipal de Palmeira/Divulgação
Vista do Solar de Jesuino Marcondes, que recebeu o casal imperial em Palmeira. Foto: Prefeitura Municipal de Palmeira/Divulgação
Ponta Grossa
Em Ponta Grossa, o anfitrião do casal imperial foi o Major Domingos Ferreira Pinto. Em agosto daquele mesmo ano, provavelmente em reconhecimento à acolhida, Pinto recebeu o título de Barão de Guaraúna. O casarão em questão ficava próximo à Praça da Matriz, onde uma banda musical animou as celebrações pela visita.
Castro
Foi na residência de Manoel da Cunha Lopes Vasconcellos, juiz da comarca, que Dom Pedro se hospedou ao visitar Castro. A casa já não existe, mas o Imperador visitou outros edifícios que ainda estão preservados. Entre eles, destaca-se a Chácara Baily. A propriedade pertencia ao francês José Baily.
Dom Pedro assim descreveu sua passagem pela chácara: “Às 7 horas de ontem fui à Chácara de Baily, que veio com outros encontrar-me ao caminho que é mau nalguns lugares. Mostrou-me a aveia que colheu, e a plantada está bem verdinha. Possui vacas e cento e tantos carneiros. Disse-me que são necessários 150 para estrumarem um are. Quer vender a terra. Tem 3 filhos”.
Casa da Chácara Baily, em Castro, que recebeu a visita da comitiva imperial em 1880. Foto: Prefeitura de Castro/Divulgação
Casa da Chácara Baily, em Castro, que recebeu a visita da comitiva imperial em 1880. Foto: Prefeitura de Castro/Divulgação
Detalhe da cozinha da Chácara Baily, em Castro. Foto: Prefeitura de Castro/Divulgação
Detalhe da cozinha da Chácara Baily, em Castro. Foto: Prefeitura de Castro/Divulgação
Lapa
Lapa foi a última cidade visitada pela comitiva imperial antes de fazer o caminho de volta a Curitiba e, dali, a Paranaguá. A honra de receber os imperadores em casa foi dada ao Coronel David dos Santos Pacheco. Assim como o Major Domingos Ferreira Pinto, o Coronel também recebeu um título poucos meses depois da visita, tornando-se o Barão dos Campos Gerais. O casarão que pertenceu a ele tornou-se, anos depois, a Fundação Hospitalar Hippolyto e Amelia Alves d’Araujo. Foi ali que Dom Pedro e Dona Tereza Cristina passaram a noite.
Fachada da antiga casa do Barão dos Campos Gerais, depois Fundação Hospitalar Hippolyto e Amelia Alves d'Araujo, em Lapa. Foto: Prefeitura Municipal de Lapa/Divulgação
Fachada da antiga casa do Barão dos Campos Gerais, depois Fundação Hospitalar Hippolyto e Amelia Alves d'Araujo, em Lapa. Foto: Prefeitura Municipal de Lapa/Divulgação
De acordo com os registros oficiais, o trecho entre Lapa e Curitiba foi um dos mais difíceis de toda a viagem e levou 17 horas. De Curitiba, a comitiva voltou a Morretes e, de lá, para Antonina e Paranaguá. Finalmente, no dia 7 de junho de 1880, a visita chegou ao fim com a partida de volta ao Rio de Janeiro.
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