Verde

Arquitetura

Arquitetura dos complexos industriais do Grupo Prada transforma fábricas em jardins

Fernanda Massarotto
06/04/2023 11:20
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Fábrica ou jardim? Essa é a primeira pergunta que se faz ao entrar em um dos quatro complexos industriais do grupo Prada, um dos mais importantes nomes da moda internacional. O conceito de respeito à natureza e dignidade à saúde psicofísica dos funcionários foi desenvolvido por Guido Canali, que há vinte anos é responsável pelos projetos arquitetônicos da grife italiana.
"Tudo nasce com um olhar de respeito e atenção em relação a quem trabalha horas e horas na confecção de uma bolsa, de um acessório ou de um vestido. A Prada consegue, dessa forma, acoplar a perfeição do trabalho artesanal ao industrial", explica o arquiteto italiano ao elogiar a iniciativa da empresa que oferece a seus empregados a oportunidade de conviver com a natureza durante as pausas de trabalho.
As fábricas-jardins, batizadas assim por Canali, são grandes estruturas em vidro e aço que nos transportam ao rigor da arquitetura racionalista com suas formas geométricas simples. Sem deixar de lado, é claro, a interação com a natureza que a circunda e reduzir o impacto em relação ao território onde as fábricas são construídas. Para o arquiteto italiano, a "invasão" do concreto na natureza pode ser amenizada. "A solução é justamente usar de técnicas que respeitem o máximo possível o ambiente", diz ele.
 A primeira fábrica-jardim da Prada, em Montegranaro.
A primeira fábrica-jardim da Prada, em Montegranaro.
A preocupação em relação ao ambiente sempre permeou as conversas entre a direção da grife Prada e Guido Canali. A empresa priorizou a integração de seus complexos industriais à paisagem local com obras que abraçassem uma ética de trabalho moderna segundo a qual a produtividade depende, também, da qualidade do espaço. A primeira fábrica-jardim nasce em Montegranaro, na região de Marche, no final dos anos 1990, e a segunda, poucos anos depois, em Montevarchi, na Toscana. Esta última, com projeto completamente horizontal para limitar o impacto de um edifício que poderia ser percebido fora de escala em relação ao contexto em que está inserido.
Os recursos arquitetônicos usados por Guido Canali para minimizar os conflitos entre progresso e respeito ao meio ambiente se traduzem perfeitamente no quartel-general da Prada, em Valvigna, na província de Arezzo, na Toscana, inaugurado em 2017. Um prédio de dois andares, de 10 metros de altura, com vista para a rodovia. Um desafio para o arquiteto que decidiu construir na parte frontal um imenso degrau onde foi plantada uma fileira de videiras. "Hoje, a visão não é de carros que trafegam em alta velocidade, mas sim de um vinhedo de 250 metros", conta o italiano que até mesmo no estacionamento do complexo industrial plantou árvores frutíferas.

Relax industrial 

O mais recente desafio de Guido Canali e do Grupo Prada abriu recentemente suas portas à natureza. A fábrica-jardim de Levanella, também na Toscana, a poucos quilômetros de Valvigna, é uma obra que reverencia o meio ambiente e o ser humano - em todos os sentidos.
Fábrica da Prada em Valvigna.
Fábrica da Prada em Valvigna.
O edifício é equipado com um sistema de ar-condicionado geotérmico e todo o teto é coberto por painéis fotovoltaicos. É a natureza que entra e estabelece novos espaços e superfícies, sobrepondo-se à arquitetura. A fábrica é composta por três prédios, um total de 44 mil m², destinados a reorganizar e racionalizar o armazenamento de roupas, calçados e acessórios da grife. "Na área externa, focamos em oferecer um espaço para o bem-estar dos funcionários com uma pista para correr e caminhar, bancos e locais para yoga, ginástica e até leitura", acrescenta Canali.
Todos os edifícios gozam de uma vista panorâmica "verde", mas é o refeitório o protagonista absoluto em termos de arquitetura sustentável. Um verdadeiro paralelepípedo em vidro com uma claraboia de 1.500 m² que dá espaço para a luz natural e ainda protege do sol. A sensação é de um enorme pergolado onde paredes e teto são abraçados por plantas. Até mesmo entre as mesas foram instaladas floreiras para garantir a privacidade.
A filosofia aplicada pelo Grupo Prada com suas fábricas-jardins se estende por seus parques industriais, num total de 200 mil m² e, parte deles, resultam da recuperação de áreas abandonadas e degradadas. O resultado se reflete não só na preservação do meio ambiente, mas no aumento de 26% das funções cognitivas dos trabalhadores e, ao mesmo tempo, na redução em 30% de doenças em geral, segundo um recente estudo da Universidade de Harvard.
Floreiras entre as mesas garantem privacidade e contato com a natureza.
Floreiras entre as mesas garantem privacidade e contato com a natureza.
"A natureza que se integra à arquitetura é uma fonte de bem-estar", atesta Guido Canali, que conta com o apoio irrestrito de Patrizio Bertelli, co-diretor executivo, ao lado da esposa Miuccia Prada, do Grupo Prada. "Eles acolhem meus desafios experimentais de braços abertos".

ForestaMi

No último mês de setembro, durante a Semana Verde de Milão, o Grupo Prada e a ForestaMi - iniciativa que prevê o plantio de 3 milhões de árvores até 2030 em Milão e arredores - sediaram o simpósio "Natureza no centro da pesquisa e design dos espaços de trabalho", uma oportunidade de discussão sobre o papel da natureza como elemento fundamental para a saúde das pessoas. A grife aproveitou o evento para anunciar seu compromisso com a ForestaMi para o reflorestamento da cidade de Milão a partir deste ano de 2023.