Lados Lados
Arquitetura
Arquitetura ancestral e ficcional marca primeira exposição solo de André Mendes no MON
Exposição Lados Lados do artista paranaense André Mendes é a primeira da história do Museu Oscar Niemeyer (MON) a mostrar simultaneamente uma obra puramente digital | Luan Galani
No ano em que o Museu Oscar Niemeyer (MON) completa 20 primaveras e que atinge sua maturidade existencial no cenário da cultura nacional e internacional, o artista paranaense André Mendes, 42, manifesta uma evolução do seu diálogo escancarado entre pintura e escultura com sua primeira exposição solo na instituição projetada por Oscar Niemeyer. É a mostra inédita "Lados Lados", com curadoria de Nei Vargas.
Pintor dos bons, como previa a caixinha de lápis de cor desde os seus seis anos de idade, André é reconhecido internacionalmente. Tem obras em coleções privadas de magnatas europeus e asiáticos, assina criações gigantes no hotel de luxo Andaz Singapore, uma das joias arquitetônicas de Cingapura, e já expôs até no Centro Cultural Cloître des Billettes, um mosteiro desativado de 1427 no coração de Paris.
Mas é essa aventura individual no MON que arranca lágrimas do artista. "É a realização de um sonho. Tem um significado imenso para mim. É resultado de muita persistência. Com a pandemia, tive a sensação de que esse projeto estava escapando pelas mãos", confidencia o artista para HAUS, durante entrevista coletiva para a imprensa.
"O tipo de interação que eu buscava dentro dos espaços foi amadurecendo. Com a pintura a óleo ou em nanquim, busquei trazer esses lugares para campos imaginários. Continuo explorando essa interação com a arquitetura, mas para tempos e lugares infinitos, de possibilidades infinitas. As telas são janelas para espaços paralelos", resume André sobre a evolução do seu trabalho.
Ancestral de ontem e de amanhã
Seja da pré-história ou de um futuro distante, a exposição de André se debruça sobre a vida e trata de uma ancestralidade atemporal. “Minha última transição foi da tinta acrílica para a tinta a óleo, que permitiu o acesso a um novo tipo de dimensionalidade. Chamo essa forma pura que saltou da tela de menir. Com um misto de paz e frieza, peso e leveza, ela se impõe em forma de ocupação de espaço com toda a sua ambiguidade harmônica”, explica o artista.
Na avaliação do curador, o trabalho do André apresenta uma frequência que dissipa as noções mais elementares entre espaço e tempo, metafísico e material, real e imaginário.
Totem, NFT, azul e feminino
O mural é uma forma de expressão bastante presente ao longo dos 22 anos de carreira de André. Não à toa, é com essa mesma linguagem parietal que ele recebe os visitantes na atmosfera envolvente que criou. É nesse primeiro espaço que o artista também apresenta sua primeira obra puramente digital, listada como NFT, a "Origin", com acesso por meio de realidade aumentada através de um filtro de Instagram.
A principal cor que conduz o visitante por meio das diferentes salas é o azul, em variadas nuances, e a forma que se repete é o menir, uma figura totêmica ovalada, ponto de partida para pensar a vida e o tempo, a memória das nossas vivências, o vestígio da passagem da existência por algum lugar. "As obras servem de portal para refletir sobre nós mesmos em uma atmosfera metafórica e atemporal", diz Vargas.
Algumas telas chegam até a trazer uma ideia de fendas e conferem uma perspectiva feminina sobre a realidade. "Penso na criação do universo e de Deus como uma figura feminina, e não como um ser, mas como uma consciência", interpreta André.