Arquitetura
Arquiteta Zaha Hadid morre aos 65 anos
A arquiteta iraquiana foi a primeira mulher a levar um Pritzker para casa em 2004. Foto: Zaha Hadid Architects/Steve Double/Divulgação
Uma das figuras mais importantes da arquitetura contemporânea, a arquiteta iraquiana Zaha Hadid faleceu aos 65 anos nesta quinta-feira (31) vítima de um ataque cardíaco em um hospital de Miami, onde estava internada desde o começo da semana tratando uma bronquite. A informação foi confirmada pela edição internacional da BBC.
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A residência e a sede do escritório da arquiteta estão baseados em Londres, na Inglaterra, mas ela estava de passagem pelos Estados Unidos a trabalho. Zaha era solteira e não deixa filhos. Ainda não existem declarações oficiais, mas agora o escritório deve ser presidido pelo braço direito de Zaha, o arquiteto alemão Patrik Schumacher.
O nome de Zaha é sinônimo de referência máxima da boa arquitetura contemporânea. Em 2004, foi a primeira mulher a levar para casa o Pritzker, considerado o Nobel da arquitetura internacional. E este ano foi novamente a primeira mulher a receber a Medalha de Ouro do Instituto Real dos Arquitetos Britânicos.
“Eu sou mulher. Eu sou árabe. Eu sou arquiteta. Biologia e geografia definem os dois primeiros atributos. O terceiro levou quarenta anos de muito trabalho duro. Mas trabalhar duro nem sempre é suficiente. Por grande parte desses quarenta anos, algumas das maiores dificuldades que enfrentei não surgiram do trabalho, mas da minha existência como mulher, como árabe, ou como mulher árabe”, confidenciou Zaha a Sophie Lovell, da revista Uncube, ao descrever quão difícil foi ser mulher no universo masculino e machista da arquitetura.
Fã confessa de Oscar Niemeyer, a arquiteta tinha como marca registrada uma linguagem ousada e orgânica, cheia de movimento, o que lhe rendeu o apelido de “rainha das curvas”.
Hadid também foi criticada, como seus colegas de geração e de sucesso global, por ter virado quase uma franquia. Quem consegue acompanhar pessoalmente, com detalhe e atenção, dezenas de obras simultâneas em diversos continentes? Várias de suas curvas começaram a se repetir, assim como os atrasos e estouros de orçamento de suas criações. Por conta disso, e também por um motim promovido pelos arquitetos japoneses, seu projeto para o novo Estádio Olímpico de Tóquio foi cancelado.
Depois de anos cortejando a mídia, estrilou diversas vezes ao vivo ao ser cobrada pelas terríveis condições de trabalho dos operários da construção do principal estádio da Copa de 2022, no Qatar, que ela desenhou. “Arquitetos não têm nada a ver com os operários, não sou eu que estou construindo, não é minha responsabilidade”, reclamou, com certa razão, mas zero tato; repetindo o discurso de diversos outros arquitetos que embarcaram em projetos para políticos (ou ditadores) populistas.
Depois de virar capa de revistas de moda e estilo, Zaha Hadid se despede em um momento em que esse caríssimo show de formas e curvas vive um certo ocaso crítico, mas ainda é sucesso de público. Ela levou o encantamento com arquitetura a gente que jamais tinha pensado o que faz uma construção emocionar.
Histórico
Zaha nasceu em 1950 em Bagdá, no Iraque, e viveu lá toda sua juventude. Estudou matemática na Universidade Americana de Beirute, no Líbano, e depois, em 1972, se mudou para Londres para estudar arquitetura na Architectural Association School of Architecture, onde viveu até sua morte.
No início de sua carreira, trabalhou com o arquiteto holandês e pensador de influência planetária Rem Koolhaas, até fundar seu próprio escritório em 1979, o Zaha Hadid Architects. Sua primeira obra foi o Vitra Fire Station, na cidade alemã de Weil am Rhein, terminado em 1993. Na época, a indústria de design sofreu um grande incêndio e encomendou um prédio para sua própria brigada de incêndio.
Paralelamente ao trabalho em seu escritório, Zaha também lecionou em diversas instituições de renome, como as universidades de Columbia, Harvard, Yale e de Artes Aplicadas de Viena.
Entre suas obras mais significativas estão o Museu Maxxi, em Roma; o centro Heydar Aliyev, em Baku, no Azerbaijão; e o Centro Aquático das Olimpíadas de 2012, em Londres.
*Com informações da Folhapress.