Arquitetura
Técnica que está desaparecendo, arcos de madeira sustentam galpões da Curitiba de antigamente
Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo | Leticia Akemi
Mesmo completando 60 anos em agosto, o Mercado Municipal ainda esconde alguns segredos. Quer uma dica? Repare no telhado do mercado. Toda a sua cobertura é sustentada por gigantescos arcos de madeira pintados de bege, uma técnica de construção que está desaparecendo e que sobrevive em Curitiba em alguns poucos barracões, como aponta o engenheiro civil e arquiteto Gabriel Ruiz de Oliveira, que leciona no curso de Arquitetura da Universidade Federal do Paraná e que se debruçou sobre o patrimônio industrial de madeira da capital paranaense durante mestrado na Universidade de São Paulo.
“A carpintaria feita naquela época apresenta uma combinação própria de soluções construtivas inovadoras e tradicionais, que remontam a técnicas empregadas na Suíça e nos países nórdicos antes mesmo da Primeira Guerra Mundial, e que ainda hoje são técnicas de ponta”, garante o arquiteto.
Os arcos de madeira são uma solução estrutural que dá conta de vencer grandes vãos com um peso relativamente baixo e com pouca quantidade de material. Por isso são bastante utilizados na construção de coberturas para indústrias, ginásios, mercados. “O que torna essas estruturas espetaculares é que podem ser construídas com peças curtas de madeira maciça, com ligações coladas, parafusadas ou dentadas, utilizando basicamente low-technology”, frisa a arquiteta Andrea Berriel, especialista em construções de madeira que também é professora da UFPR.
A estrutura do Mercado Municipal foi prevista em 1943 pelo urbanista francês Alfred Agache, mas saiu do papel com projeto do jovem engenheiro Saul Raiz, que mais tarde se tornou prefeito de Curitiba. Essa foi a quarta e última sede do mercado, depois de perambular pela cidade desde 1820, chegando a ocupar inclusive a Praça Generoso Marques.
Outro importante galpão que mantém os arcos é a antiga sede da Retificadora Paranaense (Retipar), localizada na Avenida Marechal Floriano Peixoto, 1.742, no Rebouças, onde atualmente funciona a administração das Livrarias Curitiba.
Fundada em 1951 por Serge Louis Dufour e Luciano Piuzzi, a empresa prestava serviços de retífica e comercializava peças de motores automotivos na Rua Voluntários da Pátria, no Centro. Só em 1967 mudaram-se para a localização atual, que contou com uma seção de montagem de motores Mercedes Benz e motores marítimos, como relata Gabriel em sua pesquisa. O projeto foi feito pela Construtora Marna, do arquiteto René Mathieu e do engenheiro Felippe Arns, ambos de origem francesa. Hoje o local foi adaptado para as necessidades administrativas da livraria, mas os arcos permanecem como testemunhas de um outro tempo.