O conselho de Nelson Rodrigues: “Jovens, envelheçam!”, vem se uma tornando uma realidade cada vez mais observável no Brasil e no mundo. De fato, nenhuma força demográfica será mais forte na moldura do futuro do que o envelhecimento da população. Não passa semana sem que recebamos mais e mais estatísticas sobre o quão rápidas estão se tornando as previsões sobre o crescimento da população acima de 60 anos no mundo. Cada qual trata desse tema pela sua lente: economistas falam de previdência; médicos de saúde; turismólogos de lazer, e assim por diante. Mas e os construtores? Qual a resposta do mercado imobiliário a esse desafio?
Bem, aqui já não há mesma clareza, e as respostas variam de lugar a lugar. É conhecida a forte penetração nos Estados Unidos do conceito de Senior Living, ou habitações destinadas à terceira idade, quase sempre sob a forma de algum grau de assistência e a formação de comunidades de pessoas mais maduras que moram em uma nova forma de habitação. Lugares quentes, como a Flórida, vêm atraindo mais e mais moradores para os espaços sênior, mas não é só isso. Há em todo esse país, e na Europa igualmente, muitos projetos também voltados para o mercado sênior, porém para idosos com maior grau de independência, numa categorização conhecida como independent living, onde pode-se envelhecer com maior qualidade de moradia e serviços agregados, tendo em vista também a maior longevidade geral da população.
Aqui no Brasil essas alternativas ainda vêm sendo raras, seja por menor maturação do setor, por menor grau de especialização das empresas (já que não se trata apenas de construir senior houses, mas de operar esses lares), e mesmo por aspectos culturais que afetam a percepção das famílias sobre como e quais cuidados devem ser dedicados ao envelhecimento dos familiares. A maior parte das habitações dedicadas vem sendo operada por pequenas empresas, cadastradas como ILPI, instituições de longa permanência para idosos, com critérios muito variados e não padronizados de qualidade.
Mas o panorama está mudando, é claro. Não só algumas empresas começam a ser pioneiras nesse segmento, mas, tão importante como, os próprios consumidores cada vez mais orientam-se para essa terceira casa – aquele momento em que um apartamento ou uma casa “fica grande demais” ou difícil demais para 1 ou 2 pessoas; e para mudar de vida, reduzir o isolamento, busca-se então alternativas mais funcionais, mais adaptadas a uma vida que precisa ter outros cuidados, como a questão de escadas e mobilidade, a preocupação com quedas, o manuseio dos equipamentos domésticos, a conservação e limpeza do lar e todas essas pequenas coisas que no fundo constituem nosso cotidiano. No final das contas, como os jovens um dia vão perceber, lidar com essas pequenas tarefas será uma das grandes preocupações das famílias e é mais que desejado que a sociedade consiga dar respostas adequadas a isso.
Estamos chegando, portanto, – rápido – ao momento da terceira casa. Quem perceber esse movimento e conseguir antecipar soluções vai ter uma resposta muito mais satisfatória. Se os jovens cumpriram a profecia rodrigueana e envelheceram, cabe agora a eles mesmos começar a procurar a terceira casa. É o óbvio ululante.
*Marcos Kahtalian é sócio fundador da Brain Inteligência Estratégica