Arquitetura
A história dos prédios redondos e coloridos que são uma marca de bairro curitibano
Conjunto Cruzeiro do Sul, no Jardim Botânico, em Curitiba. Cores e formato dos prédios chama atenção de quem passa nos arredores. Foto: André Rodrigues / Gazeta do Povo | Gazeta do Povo
Existem construções que, mesmo que as pessoas não saibam o nome, tornam-se pontos de referência automáticos por sua peculiaridade. É o caso do conjunto de edifícios Cruzeiro do Sul, no bairro Jardim Botânico, em Curitiba. Especialmente quem os vê de cima ao passar pela Avenida Comendador Franco, a Avenida das Torres, tem a curiosidade aguçada para saber como são por dentro os apartamentos dos cinco prédios redondos que formam a constelação colorida — que para outros parecem reatores nucleares — perto do viaduto do Capanema. Inaugurado em 1969, cada um dos prédios representa uma estrela do Cruzeiro: Alpha, Beta, Gamma, Delta e Epsilon.
Os moradores mais antigos, como Christianne dos Reis Linares, que mora no local há 43 anos, contam que a pergunta mais comum é se os apartamentos são redondos também, já que a estrutura externa é em formato de cilindro. A maior parte dos andares tem dez apartamentos no pavimento. O eixo central dos prédios são as escadas — não há elevadores e conta-se que, antigamente, esse eixo tinha uma passagem para que os moradores jogassem seu lixo para baixo diretamente do corredor, por uma tubulação própria — que dão para cinco corredores onde estão as entradas das moradias, formando uma espécie de estrela também por dentro.
A maior parte dos apartamentos é de dois quartos, enquanto apenas um dos prédios têm apartamentos maiores, com três quartos. Contrariando o que pensam alguns, as paredes internas são retas, o que não deixa de desafiar a decoração dos lares, já que o formato não é tradicional. A sala, por exemplo, começa com uma largura e vai afinando até a janela, com paredes diagonais. A configuração interna dos cômodos parece formar um quebra-cabeça, pois cada quarto tem um formato diferente.
Outras características que chamam a atenção são as cores dos edifícios, como lilás, amarelo e azul. “Quando cheguei aqui na primeira vez achei a coisa mais linda, pareciam construções de fantasia”, lembra Linares, que passou a habitar o Alpha aos dez anos de idade. Ela conta que na época o conjunto não era cercado como hoje, o que rendia situações inusitadas, como a vez em que um elefante fugiu de um circo próximo e foi parar entre os prédios do Cruzeiro do Sul.
Além dos universitários, que escolhem a localização pela proximidade a vários campi, boa parte dos moradores é de idosos que moraram ali durante grande parte da vida, o que forma uma espécie de família, pois muitos se conhecem há anos. “É bem diferente de outros condomínios onde morei. Aqui é como se fosse uma cidade pequena, todo mundo se conhece”, conta Danielle Cunha, moradora há 14 anos. Os vizinhos se reúnem nos bancos da área externa para conversar e se presenteiam com pratos que fazem na cozinha. Antigamente, as donas de casa faziam a feira juntas e se reuniam para estender roupa em varais do lado de fora, que hoje não existem mais, enquanto cuidavam das crianças e batiam papo.