Arquitetura
A história do prédio de 1940 que é o termômetro da Praça Tiradentes
Esquadria em formato de tubo é o principal destaque arquitetônico do Edifício Santa Rosa. Foto: Fernando Zequinão / Gazeta do Povo | Gazeta do Povo
Sistema de encanamento com água aquecida, banheiras em louça, espaço para telefone, elevador. Se hoje essas tecnologias não surpreendem mais ninguém, no início da década de 1940 elas transformaram o Edifício Santa Rosa, localizado na Praça Tiradentes, em um dos endereços mais cobiçados por quem buscava um novo lar no centro curitibano. O edifício, de alto padrão para a época, também impressionava por seu tamanho. Com seus — hoje, humildes — oito pavimentos, o Santa Rosa era um dos mais altos prédios da capital paranaense quando foi inaugurado, em dezembro de 1940.
“O Santa Rosa é classificado como protomoderno, tem características que foram muito pioneiras para Curitiba na época. Esse estilo é mais sóbrio, reto, é o que vai gerar aquela arquitetura de Brasília, por exemplo”, explica Emanuel Gonçalves de Aquino, um dos pesquisadores do projeto Arquivo, que produz e sistematiza um inventário sobre o Patrimônio Histórico Arquitetônico construído na cidade de Curitiba, ligado ao curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR).
“A maior importância do edifício vem da inovação tecnológica para a época. Ele foi um dos primeiros de Curitiba a ter elevador, tem laje impermeabilizada desde a inauguração”, conta Aquino. Até hoje o elevador é o original da época, assim como o revestimento de pó de pedra que recobre toda a fachada. O interior do edifício revela o trabalho primoroso de seu idealizador, o engenheiro civil Rivadávia Fonseca de Macedo. Os espaços comuns têm pisos de granitina, executados manualmente com desenhos e cores diferentes para cada pavimento. Cada andar também recebeu vitrais em vidro martelado com coloração própria.
O Santa Rosa ocupa um lote de característica colonial, prolongando-se por toda a quadra até a Rua Saldanha Marinho, onde o térreo é ocupado por um bar. Do lado oposto, com face à Tiradentes, uma loja de brinquedos preenche o piso ao nível da calçada. Desde sua construção, o prédio tem uso misto, entre apartamentos comerciais e residenciais. Hoje, o último tipo é o predominante. São 15 apartamentos em que vivem cerca de vinte pessoas.
A arandela da praça
O Santa Rosa se diferencia dos imóveis do entorno por uma particularidade estética: uma esquadria em forma de tubo composta por placas de vidro que se estende pelos seis pavimentos centrais do prédio. Esse eixo vertical que comunica as unidades habitacionais proporciona uma identidade marcante e se relaciona diretamente com o espaço público. A estrutura foi projetada para funcionar como uma arandela que iluminaria a praça à noite.
Bisneto do engenheiro civil responsável pela construção do Edifício Santa Rosa, o advogado Carlos Roberto de Macedo viveu todos os seus 45 anos de idade no prédio da Praça Tiradentes. Ele conta que, de acordo com relatos de sua família, o engenheiro teria criado a janela tubular de vidro inspirado em um termômetro de mercúrio. “Às vezes as pessoas pensam que essa janela dá na escadaria, mas fica na sala. Você pode colocar umas plantinhas ali, como se fosse um jardim de inverno”, conta.
Preservação
O prédio que já foi famoso por suas regalias e diferenciais em épocas remotas hoje mostra marcas do tempo e das interações com a cidade. “Ano passado o edifício foi pichado. A Prefeitura entrou em contato com a gente para fazer um trabalho de despichação”, expõe Macedo. Ele completa que ainda não existe prazo para o restauro da fachada. De acordo com Aquino, esta não será uma tarefa simples. “É difícil de tirar a pichação porque não é interessante simplesmente pintar. Isso ocultaria o real material do prédio, que é único, o pó de pedra”, explica.