Luz e cor
Arquitetura
Branca ou amarela? A iluminação dos ambientes é determinante no conforto e funcionalidade
A iluminação é fundamental para uma boa ambientação. A escolha do tipo de luminária ou das lâmpadas pode mudar completamente o visual de um cômodo e, entre os critérios que devem ser levados em conta, está a cor (temperatura) da luz.
Antes de se perguntar qual coloração você deseja para sua iluminação, é preciso responder o que você espera de determinado ambiente. A decisão entre uma lâmpada com luz mais branca ou amarelada depende muito de qual é o objetivo do espaço em questão.
O primeiro passo é compreender um conceito bastante importante, que é a temperatura de cor. Embora o nome possa indicar que seja algo relacionado ao calor físico das lâmpadas, quando falamos de temperatura de cor estamos nos referindo à tonalidade, ou seja, ao que vemos como branco ou amarelo. A unidade de medida da temperatura de cor é o kelvin. Quanto mais alto o número, mais branca/azulada a luz será. Quanto menor, mais amarelada é a aparência.
As lâmpadas existentes no mercado costumam variar entre 2.400k (bem amarela) até cerca de 6.000k, uma luz muito branca, quase indo para o azulado.
Com isso em mente, podemos seguir para a segunda parte. O que eu quero para a minha sala? Relaxamento ou mais atenção? Uma luz mais amarelada, com uma cor mais quente, oferece maior conforto óptico e aconchego, enquanto uma luz mais branca, fria, traz mais estímulo. Nessa dualidade de tons, há uma escolha entre conforto e funcionalidade.
A arquiteta Anna Paula Amaral, da Duolight, e a lighting designer Leticia Ribas Pangracio, da Ideally Iluminação, compartilham a preferência por lâmpadas mais amarelas.
“A luz amarelada dá brilho, conforto visual, deixa seu ambiente mais quente”, pontua Anna. “Em áreas mais nobres da casa, como a sala de estar e o quarto, o ideal é usar uma temperatura de luz em torno de 2.700k a 3.000k”, complementa Leticia. Os ambientes funcionais, como a cozinha e a lavanderia, podem receber uma iluminação de 4.000k, chamada de neutra – e comumente percebida como branca. Acima disso, as lâmpadas são indicadas para áreas industriais ou locais que envolvem questões técnicas muito específicas, como hospitais.
A temperatura de cor, se mal escolhida, pode gerar uma ambientação conflitante nos espaços a serem iluminados. “Se você colocar uma lâmpada de 4.000k em um quarto, a pessoa tende a ficar mais acelerada e não descansar, não relaxar. Da mesma forma, como num ambiente de trabalho, se eu preciso ter uma equipe motivada, acelerada, usar uma lâmpada de 2.700k pode gerar uma sonolência, um cansaço maior, ao invés de fazer com que o corpo fique ativo”, explica Leticia.
Outro aspecto que deve ser levado em consideração é o IRC, o Índice de Reprodução de Cores, escala que vai de 0 a 100 e indica a capacidade de uma fonte luminosa reproduzir a cor. Quanto maior o IRC, mais natural é a percepção das cores no ambiente. Este não é o único indicador para definir se uma luz tem boa reprodução de cores, mas em geral, é um guia relevante. As lâmpadas mais amareladas, entre 2.700k a 3.000k, costumam possuir um IRC acima de 95, levando vantagem sobre a luz branca (6.000k), principalmente se a intenção é valorizar as cores e texturas do ambiente.
“Quando estamos em uma casa que tem quadros, um sofá com texturas e cores, eu preciso ressaltar isso. E esse destaque a gente consegue com uma lâmpada mais amarelada, e não com uma mais branca”, argumenta Anna. “A cor que você vai escolher não deve distorcer a cor real do que você precisa iluminar. Por exemplo, se você colocar uma lâmpada 3.000k para iluminar um vestido preto, ele vai ter uma cor com um certo brilho. Se você colocar uma luz de temperatura acima dos 4.000k, o preto vai ser mais chapado”, exemplifica.
Cores diferentes
Normalmente, os ambientes são iluminados com lâmpadas com uma única temperatura de cor. Mas alguns projetos possibilitam a união de lâmpadas com temperaturas diferentes. O designer Rafael Franczak, da RA.w Arquitetura, teve a oportunidade de fazer uso de diferentes temperaturas no projeto de um salão de festas para um condomínio de alto padrão localizado no bairro Bigorrilho. O espaço, pensado para atender desde jantares familiares menores até festas com mais de 50 pessoas, contou com uma setorização influenciada pelos materiais e também pela iluminação.
Na área mais central do salão foi utilizada uma luz 3.000k, mais amarelada; nos vãos do teto, somada a diversos spots com a luz neutra, a luz de 4.000k. “O que a gente procurou fazer nesses rasgos, nesta luz um pouco mais decorativa, mas que ilumina muito bem, foi um contraponto com os spots. Nesta área central é onde vai acontecer o movimento da festa, muitas pessoas passando, muita coisa rolando. Então, precisamos de uma luz forte”, justifica Rafael.
Para ampliar as possibilidades, o uso de circuitos foi uma estratégia. Assim, as iluminações se acendem de maneira separada. Nas áreas laterais, onde a madeira foi o principal material do espaço, houve a opção por uma lâmpada ainda mais amarelada, de 2.700k. “Nessa região, fizemos uma diferenciação de material, de piso, parede e teto, pois ali nós buscamos trazer um ar de bistrô, algo mais tranquilo”, explicou.
Por último, mas não menos importante, a área da cozinha recebeu luzes neutras de 4.000k. “Nossa primeira opção é sempre colocar as mais amareladas em tudo, até mesmo na cozinha. Mas muitas vezes os clientes pedem uma coisa mais neutra, e costumamos utilizar os 4.000k”, finaliza.