Arquitetura
A vida controversa de um dos maiores gênios da arquitetura mundial

O complexo que construiu em Taliesin tornou-se um centro de formação de jovens arquitetos. Foto: Reprodução
Frank Lloyd Wright (1867-1959) foi um desses sujeitos que a gente gosta de chamar de gênio, já que a palavra consta nos dicionários. Quem é da área sabe que o norte-americano é um dos “três porquinhos” da arquitetura moderna: seus mais de mil projetos concebidos ao longo da vida são estudo obrigatório. Se você nunca ouviu falar, para início de conversa é bom saber que o norte-americano é um peso-pesado da arquitetura moderna, tal qual Einstein para a física moderna ou Muhammad Ali para o boxe.

E ele sabia disso. Era o rei que ninguém desafiava. Sua arrogância não deixava barato. O arquiteto francês Le Corbusier, outro pai da arquitetura moderna, fez uma visita aos Estados Unidos e Wright se recusou a conhecê-lo. Depois de ver um projeto do arquiteto finlandês Eliel Saarinen, sentenciou: “Que grande arquiteto… eu sou”. Ficou ainda mais famoso quando se negou a cumprimentar o arquiteto alemão Walter Gropius, um dos fundadores da escola Bauhaus. “Sr. Wright, é um prazer conhecê- -lo. Sempre admirei seu trabalho”, teria dito o alemão. Em resposta, o ianque não sorriu nem levantou a mão — e seguiu seu trajeto de carro.
Os jornais que noticiavam escândalos gostavam dele por isso. Foi um dos primeiros arquitetos do mundo a virar capa da revista Time. Inaugurou o rol dos starchitects (arquitetos estrelas, em tradução livre). Explosivo e fascinado pelo culto a sua própria personalidade, vivia muito acima das suas posses, adorava comprar vasos chineses, pijamas de seda e gravatas. Seu esporte favorito era apontar o que lhe desagradava com a bengala. “Desde muito cedo, tive que escolher entre a arrogância honesta e a humildade hipócrita, e ainda não vi motivo para mudar”, disse certa vez.

Sexo, tragédia e sangue
Natural do interior do Wisconsin, aprendeu a amar a natureza como expressão divina e criou um jeito próprio de habitar a paisagem. O que para sempre influenciou sua maneira de enxergar as cidades. Para Wright, a cidade moderna, como a conhecemos, deveria ser destruí- da. Para salvar seu país, defendia cidades meio campesinas, em que cada um precisava apenas de um pedaço de terra, ar e luz suficientes para permitir às pessoas viverem como indivíduos, e não como cifras. O patrono da arquitetura norte-americana achava que as megalópoles nos tornavam artificiais. Talvez não estivesse tão errado.

Sua vida é digna de um filme, recheada de casos amorosos, homicídios, incêndios e prisão. Casou-se diversas vezes. Ganhou uma péssima fama pelos diversos casos extraconjugais que colecionava. Durante o primeiro casamento, com Catherine Lee Tobin, com quem teve seis filhos ao longo de 20 anos, abandonou a família e se refugiou na Itália com Mamah Cheney, esposa de um cliente. Na volta aos Estados Unidos, funda sua casa e centro de ensino de Taliesin, no Wisconsin, nome que homenageia um bardo do País de Gales, terra dos seus pais. O destino decide contra-atacar: um assistente dele mata Mamah, os dois filhos dela, quatro colaboradores, e depois incendeia todo o complexo.
Ao longo dos anos, casou-se mais algumas vezes e quase foi à falência em decorrência dos divórcios. O casarão ganhou diversas versões e resiste até hoje. No terreno ele foi enterrado.
Apesar de seu retumbante sucesso, ao fim da carreira teve sua arquitetura (a genuína escola norte-americana de projetar e construir) trocada na época pela Bauhaus e Mies Van der Rohe, que enfiou metade dos Estados Unidos nos cubos criados para os operários alemães. A escola alemã estava em alta e sua efervescência cultural encantava os norte-americanos. A vida também gosta de ser arrogante.
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