Patrimônio
Arquitetura
Completando 130 anos em 2023, Catedral de Curitiba demorou 17 para ficar pronta
Catedral de Curitiba e Praça Tiradentes. | Henry Milleo/Arquivo/Gazeta do Povo
Quando Curitiba foi fundada, 330 anos atrás, a Paróquia Nossa Senhora da Luz dos Pinhais, que é atualmente a Arquidiocese de Curitiba, já existia há 25 anos*. Assim como praticamente tudo que deu origem à cidade, o templo que a sediava ficava na praça Tiradentes, mas distante do que conhecemos hoje como Catedral Basílica. Aliás, de lá para cá, foram três as sedes oficiais da paróquia. A que está em pé hoje, edificação em estilo neogótico do francês Alphonse Conde Des Plas, começou a ser construída em 1876 e, em 2023, completa 130 anos desde sua finalização.
“Antes dessa igreja, havia a antiga matriz que ficava aqui em frente, onde hoje há a floreira com a estátua do Cacique Tindiquera. Era uma construção em estilo colonial que ficava sobre um terreno bastante úmido”, conta o historiador e mediador das visitas guiadas mensais à Catedral, Gabriel Forgati.
A umidade proveniente de lençóis freáticos já comprometia a edificação quando, nos anos 1860, torres foram adicionadas ao prédio. Pouco tempo depois as novas estruturas afundaram, provocando fendas na fachada. A saída foi demolir a igreja e construir uma nova, do zero.
Para isso, o templo foi fechado em 1875 e as celebrações transferidas para a Igreja do Rosário. As obras, por sua vez, começaram em fevereiro do ano seguinte, após a benção da pedra fundamental e enquanto a demolição ainda estava em andamento: (os materiais da antiga matriz foram reaproveitados até a antiga edificação ser totalmente desmontada, em 1880). A construção foi erguida próximo à antiga edificação, mas em um local que garantisse o alinhamento do novo templo ao quadrilátero da praça.
O projeto
Embora a escolha tenha sido por um projeto neogótico, conforme historiadores, ela não foi óbvia. Considerou-se, por exemplo, uma proposta bizantina, desenvolvida pelo então engenheiro da província do Paraná André Braz Charléo Junior no tempo recorde de duas semanas. A hipótese é de que o projeto tenha sido feito baseado em manuais, daí a rapidez na execução. Ao mesmo tempo, havia quem defendesse que a igreja deveria ser colonial, como a antiga matriz.
O projeto de Conde Des Plas – que passou um tempo desaparecido durante a construção e, acredita-se, sofreu alterações quando o engenheiro-arquiteto italiano Luigi Pucci assumiu a obra – foi escolhido por dar um “ar de modernidade” ao templo. Isso porque o século 19 foi aquele em que a ideia de resgatar as características do estilo gótico ganhou popularidade na Europa e chegou às Américas, inclusive ao Brasil.
Seguindo a proposta revivalista, o templo foi construído em formato de cruz, com um eixo central que vai da porta frontal até o altar principal que é atravessado, na altura do presbitério (espaço que antecede o altar), por uma ala onde há as portas laterais. Esse eixo é “cercado” por torres, naves laterais e, aos fundos, a área onde hoje há a sacristia. Do lado de fora, conta com torres, arcos ogivais e vitrais.
“Existe uma conversa de que o projeto seria inspirado na Catedral de Barcelona, mas ela não faz muito sentido, porque, na verdade, ela parece qualquer catedral europeia do mesmo estilo”, diz Forgati.
A obra
Depois de lançada a pedra fundamental, a expectativa era que as obras – financiadas pela província, mas com decisões tomadas mediante aval da Igreja – durariam em torno de três anos. Na realidade, foram 17 anos em construção, feita com a mão de obra de luso-brasileiros e escravizados.
A demora, conforme o mediador das visitas guiadas ao espaço, se deu por uma série de motivos: falta de dinheiro, falta de profissionais, troca de mestres de obras – algumas, inclusive, motivadas por brigas – e até a perda da planta do projeto.
Por fim, em 7 de setembro de 1893, o espaço foi inaugurado e abençoado em cerimônia celebrada pelo padre Alberto José Gonçalves. “Desconfio com força de que a igreja foi inaugurada com energia, porque há relatos em jornais da época de que ela estava bem iluminada”, revela Forgati.
Naquela época, a edificação era diferente da que conhecemos hoje – e não apenas pelas reformas por que passou ao longo dos anos. O exterior era branco, porque o único acabamento externo era cal. “Não havia dinheiro para outro”, explica Forgati. Tanto que, do lado de dentro, a única parte a receber acabamento foi o altar-mor. As pinturas que existem hoje nas paredes internas, de autoria dos irmãos Carlo e Anacleto Garbaccio, são do fim da década de 1940.
Também são desse período os vitrais e o mobiliário que estão na igreja hoje. Os originais eram bem mais simples – os vitrais, por exemplo, tinham motivos geométricos e florais, além de poucas cores. Alguns ainda são preservados em salas da Catedral.
Reformas e restauros
As mudanças por que o templo passou a partir de 1940 são aquelas que o deixam com o aspecto que conhecemos atualmente, inclusive o fechamento da parede do fundo do altar-mor, que era aberta. Porém, as alterações na edificação começaram desde sua inauguração. Em 1910, por exemplo, foi feita a primeira pintura interna, que foi seguida de construção dos altares colaterais.
Com o tempo, as obras também passaram a revelar itens do passado. Foi o caso da troca do ladrilho hidráulico do presbitério por lajotas de mármore, em 1959, que resultou na descoberta de um poço de 17 metros de profundidade localizado ao lado do altar.
A primeira ação de restauro vem nos anos 1970, demolindo os altares laterais e gerando revolta entre a população. “Queriam restaurar ao padrão original, mas esse original nunca existiu”, diz Forgati, lembrando que muitas mudanças foram feitas ao longo do tempo. Outras, de caráter mais conservativo, vieram na década de 1990 e 2010. “A última trouxe algumas modificações, como novo mobiliário, novo altar e nova cátedra, mas teve o objetivo de conservar mesmo”, resume Forgati.
*A data de fundação é incerta, mas estima-se que ela tenha sido fundada por volta do mesmo período em que foi criada a Vila de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais e erguido o pelourinho, o que ocorreu em 1668.