Utilizar contêineres que seriam descartados pela indústria de transportes é uma opção para construir de forma rápida, sustentável e com estilo. De cafés a escolas e residências, esse tipo de módulo diminui o impacto ambiental da construção civil e moderniza a aparência dos projetos arquitetônicos.

Entre as vantagens do material, os arquitetos destacam a praticidade. O arquiteto Felipe Guerra afirma ainda que os contêineres carregam “todo um charme de estilo. Principalmente para espaços comerciais, eles servem também como cenário e decoração“.

As desvantagens ficam, principalmente, por conta do transporte dos módulos. “Há lugares em que não se pode colocar um contêiner simplesmente porque o caminhão não consegue acesso”, diz Priscila Ferstemberg, arquiteta responsável por mais de 18 projetos envolvendo contêineres. O preço do transporte e o tamanho das caixas de metal também são apontados como condicionantes para o uso dessas peças. Quem opta pelos contêineres, no entanto, não está pensando apenas nisso. “Não é o preço que transforma o uso do contêiner em algo interessante, é uma questão de sustentabilidade. A palavra da moda é reuso”, defende Guerra.

Descubra dez empreendimentos que embarcaram nessa tendência.

O conceito arquitetônico do Upside Gastrobar, em Curitiba, foi desenvolvido por Priscila. “No Upside eu usei todos os contêineres brutos, sem revestimento interno. A chapa interna também é aparente, assim como o piso de madeira original”, afirma Priscila. O único ambiente revestido é a cozinha, por uma exigência da vigilância sanitária.

A arquiteta já utilizou contêineres em 18 projetos espalhados pelo Brasil. Na lista estão casas, restaurantes, casas de show e até a Pedreira Paulo Leminski, em Curitiba.

Felipe Guerra, arquiteto responsável pelo projeto do Kasten Café, em Curitiba, explica que os contêineres são uma opção prática para a construção civil. A customização feita nos módulos é rápida e fácil de ser feita. “Usando contêineres, do dia para a noite você monta uma obra grande, então há um efeito de impacto muito rápido. Além disso, é uma obra limpa, que não envolve pedreiros, sujeira de construção e não polui”.

No projeto do Kasten, o único inconveniente foi a vedação do encontro entre os dois módulos usados. “Quando você encosta um contêiner no outro, você gera um ponto frágil de impermeabilização. Resolvemos o problema construindo um telhado sobre o café”, detalha Guerra. O telhado também ajudou a tornar o ambiente mais fresco, porque bloqueou parcialmente a incidência de sol sobre o metal.

O arquiteto Wille dos Santos não pensou duas vezes antes de sugerir os contêineres para um projeto na unidade do Centenário do Colégio Adventista, em Curitiba. “A escola fez o pedido de uma obra sustentável, porque estava trabalhando o tema com as crianças naquele ano”, conta Wille. Idealizada para receber as crianças no contraturno, a escola tem quatro ambientes. Um deles é destinado ao descanso dos alunos, outro à coordenação pedagógica do núcleo e outros dois para realização de tarefas e outras atividades.

Outras particularidades do projeto são o piso emborrachado, derivado de pneus reciclados e o teto feito a partir de garrafas PET. A rapidez também foi determinante para a escolha dos contêineres. “A gente tinha um prazo curto para executar a obra, que era do período das férias de dezembro, até o começo das aulas do ano seguinte. Os contêineres permitiram que tudo ficasse pronto a tempo”, relata o arquiteto.

Também desenhado por Priscila, o projeto da Lapi Equipamentos misturou a aparência industrial dos contêineres a materiais tradicionais. “Esses contêineres foram internamente revestidos. Usamos também estruturas metálicas e vidro, paredes de drywall e piso laminado”. A obra é a prova de que também é possível adaptar outros tipos de material aos módulos metálicos.

Até mesmo uma casa de shows pode ser inteiramente construída com contêineres. Quase pronta, essa obra em Capinzal-SC é o mais novo empreendimento da arquiteta Priscila Ferstemberg, responsável pela parte estrutural, e da Ambience Arquitetura e Engenharia, que assinou o projeto de interiores. “Nesse caso, a gente revestiu os contêineres por fora. Do lado de dentro, há contêineres aparentes. O mezanino que vai ser um camarote foi feito em um contêiner suspenso no interior da casa”, conta Ferstemberg.

Contêineres também podem ser utilizados em projetos de arquitetura efêmera. Guerra optou por eles para criar os ambientes do LABModa, evento conceitual de moda realizado no shopping Pátio Batel.

Se, na cidade, o visual dos contêineres já impressiona, em áreas rurais ele atrai todos os olhares. Em Guarapuava-PR, Priscila desenvolveu o projeto de uma casa de campo que utilizou contêineres pintados em tons de cinza e azul. “A parte de baixo dessa casa não tem paredes, é toda aberta”, explica. Por fora, a plasticidade moderna do metal. Por dentro, todo o conforto oferecido pela alvenaria convencional.

Inteiro construído a partir da estrutura de contêineres, o Tetris Hostel, em Foz do Iguaçu-PR, é um grande exemplo de que esse material pode ser utilizado mesmo em grandes obras. Localizado em uma das principais cidades turísticas do Brasil, o Tetris tem ainda outros detalhes que o tornam sustentável, como o aquecimento solar, móveis reciclados, telhado verde e uso de água da chuva. O projeto é da arquiteta Karin Nisiidi.

A Pedreira Paulo Leminski, em Curitiba, também recebeu contêineres para solucionar problemas inerentes a um grande espaço de shows. Reaproveitados, os módulos viraram bares, banheiros e um módulo para a polícia. “Curitiba é a capital ecológica. Esses contêineres não agridem o meio ambiente e podem ser retirados de lá a qualquer momento. Como o local não tem tubulação hidráulica, eles foram a solução ideal”, destaca Priscila.

Em outro exemplo de arquitetura efêmera, o festival de música Tribal Tech já teve como cenário vários contêineres. O projeto também foi idealizado por Guerra, que espalhou os módulos próximo ao palco principal do evento.