História da Engenharia
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Enedina: um legado na engenharia civil do Brasil

Colégio Estadual do Paraná, obra em que Enedina foi corresponsável. | SEAD-PR
O mês que homenageia as mulheres traz oportunidade para resgatar a história de uma das pioneiras do Brasil. Ela foi corresponsável por diversas obras que impactam ainda hoje no desenvolvimento do Estado do Paraná, ela é Enedina Alves Marques.
Origem e Formação

Natural de Curitiba, Enedina foi a primeira engenheira negra do Brasil, graduada em 1945 pela Universidade Federal do Paraná. Em uma época em que mulheres não eram comuns nos meios acadêmicos, ela dividiu esforços entre trabalho e estudos para alcançar o seu objetivo, deixando importante legado histórico para o país. Nascida em 1913, filha de um lavrador e uma empregada doméstica, era a única mulher dentre os sete irmãos da família, e lutou muito para obter a graduação em engenharia civil, uma batalha considerável em um meio dominado por homens, ricos.
Conta-se que a solenidade de graduação da turma de Enedina, ocorrida no Palácio Avenida, no centro de Curitiba, atraiu grande curiosidade por parte da sociedade da época. Era recente o final da Segunda Guerra, e houve grande estranhamento dentre os convidados presentes no evento, uma vez que as mulheres paranaenses que desejavam seguir alguma carreira, eram em sua grande maioria professoras.
Legado

Além do legado histórico como primeira engenheira do Sul, e primeira engenheira negra do Brasil, o êxito obtido parece ter servido como propulsor para que Enedina deixasse grande legado prático para a região. Ela contribuiu para o desenvolvimento na área educacional e de infraestruturas, a exemplo de sua colaboração nas obras do Colégio Estadual do Paraná (até hoje o maior da Estado) e da Usina Capivari-Cachoeira (maior hidrelétrica subterrânea do Sul do Brasil).
Usina Governador Pedro Viriato Parigot de Souza

Inicialmente chamada de Usina Capivari-Cachoeira, ainda hoje é a maior central subterrânea do Sul do Brasil, e foi uma obra marcada por diversos elementos de pioneirismo. Inaugurada oficialmente em janeiro de 1971, 13 anos antes da Usina de Itaipu, as obras de sua construção criaram uma enorme represa na região metropolitana de Curitiba, a partir do rio Capivari. Este volume d’água então fora desviado ao rio Cachoeira, já no litoral paranaense, aproveitando-se de uma queda de 754 metros. As águas são conduzidas pelo grande desnível através de um túnel de 15,4km que atravessa a Serra do Mar paranaense. Na base da montanha, foram escavadas três grandes cavernas que compõem a Central Hidrelétrica - com Sala de Válvulas, Sala de Máquinas e Sala do Transformadores, produzindo mais de 900 milhões kWh por ano.

Sem dúvida alguma, a Usina representa uma impressionante estrutura e componente estratégico para toda região, fornecendo até hoje energia necessária para o desenvolvimento de diversas áreas econômicas do Paraná, mercado imobiliário inclusive. Uma das curiosidades acerca da contribuição de Enedina é que durante as obras da Usina, ela chegou a dar tiros ao alto, impondo sua autoridade enquanto engenheira encarregada, em meio as desordens da equipe tumultuada (composta apenas por homens).
Inspiração Feminina
A história desta pioneira da engenharia civil do país merece ser recontada e registrada sempre que possível, não apenas por sua dedicação e esforço imenso para tornar-se a primeira engenheira negra do Brasil, mas pela competência e autoridade com que desenvolveu o seu trabalho. São frutos de sua atividade que vemos ainda hoje impactando na formação de pessoas, na geração de energia, no desenvolvimento do Paraná, e que seguiu inspirando muitas mulheres desde então.