Arte, para que te quero?
HAUS Imobi
Investimento nas artes assume protagonismo nos empreendimentos imobiliários
Painéis assinados pela artista visual Ananda Nahú ocupam o sexto andar do Rosewood | Ananda Nahú
Assim como outros setores, o mercado imobiliário é impactado por movimentos culturais e comportamentais — considerando aqui a cultura em seu sentido amplo. Com base neles, e os alinhando às suas estratégias de negócio, construtores e incorporadores adotam conceitos e soluções que tornam seus empreendimentos mais atraentes e exclusivos para os consumidores, nas variadas faixas de renda.
O que surge como novidade ou tendência em determinado momento transforma-se, com o tempo, em item praticamente obrigatório, e dá lugar a um novo atributo que assumirá essa função, alimentando a cadeia em um ciclo contínuo.
Foi o que aconteceu com a chegada dos condomínios-clube e a inclusão expressiva de áreas de lazer e convivência nos empreendimentos, seguido pelo investimento em certificações de sustentabilidade e em projetos autorais de arquitetura e interiores. Assinados por profissionais renomados, eles garantem qualidade espacial e estética aos imóveis, ao mesmo tempo em que trazem o status de grife aos empreendimentos.
Nesse cenário, um novo atributo começa a ganhar escala no mercado: a arte. Como ocorreu com os que o antecederam, a ascensão e destaque ao trabalho artístico nos lançamentos imobiliários reflete o espírito do tempo - do termo alemão Zeitgeist, que se refere ao conjunto de características que definem uma época - e ganha força ao integrar da conceituação dos empreendimentos à experiência que irá proporcionar aos seus futuros moradores.
“A fórmula é a mesma. O advento do ‘capitalismo artista’ acelera o consumo por meio da obsolescência programada dos produtos. Todos querem vender - não podemos romantizar essa questão -, e a apropriação da arte ajuda a gerar respeito, a se ofertar uma estética [refinada]. As incorporadoras estão fazendo o que a moda e a TV fazem: a adaptação da arte ao mercado com a mesma estratégia de converter a beleza em algo que facilite a venda”, avalia Ana Penso, designer, artista, palestrante e estudiosa do tema. “O mercado como um todo se apropriou do conceito para gerar valor [aos seus produtos]. Dentro do ‘capitalismo artista’ e desse movimento que está acontecendo, ao mesmo tempo em que temos o crescimento obstinado do lucro, temos, também, o maior respeito pela arte”, acrescenta.
Tal crescimento também reflete o amadurecimento e a valorização da cultura artística no país, especialmente a experimentada nos últimos 30 anos, como lembra Marc Pottier, curador de arte, integrante do Núcleo Curatorial do Museu Oscar Niemeyer (MON) e curador internacional do projeto de criação do Museu Internacional de Arte de Foz do Iguaçu, em parceria com o Centre Pompidou de Paris, em Foz do Iguaçu.
No Brasil desde 1992, o francês conta que, quando chegou, eram poucos os museus, fundações privadas e o destaque ao universo das artes. “Hoje, mais de 30 anos depois, a situação é totalmente diferente. O Brasil tem Inhotim, tem São Paulo no mesmo nível de Nova Iorque e Paris em termos culturais. O país passou por esse tsunami de criação de espaços e revistas que celebram seus talentos”, avalia.
Esse movimento, na visão do curador, elevou o investimento na arte a outro patamar quando o assunto é o setor imobiliário, fazendo com que ela deixasse de ser meramente decorativa para se tornar parte da narrativa dos empreendimentos.
Para ilustrar tal ponto ele cita o exemplo do Rosewood, hotel do complexo Cidade Matarazzo, em São Paulo, do qual é curador. Exemplo emblemático quando se pensa em projetos arquitetônicos e de interiores, o complexo hoteleiro conta com afrescos, carpetes, telas, esculturas, entre outras peças de valor artístico, desenvolvidas e assinadas por artistas brasileiros especialmente para o empreendimento.
“É uma celebração do melhor do Brasil”, resume Pottier, que aponta outras ações em curso no país, especialmente as imobiliárias, cujos projetos estão fundamentados na premissa artística. “Estou envolvido com projetos da AG7, convidando artistas para criar obras especificamente para os espaços públicos dos prédios”, conta.
Outros projetos curitibanos também investem e destacam nomes brasileiros com projeção internacional - caso do empreendimento Amira, da MDGP + Aurora Centennial, que contará com a primeira instalação artística pública assinada pelo Estúdio Campana no Brasil -, e valorizam artistas locais que são referência nas artes nacionais. Neste último caso, são exemplos os empreendimentos Lange, Turin, da GT Building, e o Piemonte Poty, que fazem homenagem e contam com obras dos artistas plásticos Lange de Morretes e João Turin, e Poty Lazzarotto, respectivamente. Além de integrarem os interiores dos empreendimentos, as obras serão expostas ao público, tanto nas praças públicas dos condomínios quanto em galerias de arte instaladas nas centrais de decorados das incorporadoras.
“[Trazer] os artistas para os espaços públicos é uma forma de democratização da arte. Muitas pessoas são tímidas, pensam que a arte é para a elite. Quando os [incorporadores] imobiliários convidam artistas para esses espaços, [colocam obras] nas entradas, nos jardins, em locais onde antes não havia arte, eles a colocam no caminho das pessoas”, destaca Pottier. O curador também vê o investimento como uma decisão política dos incorporadores, uma maneira de dizerem que acreditam no país, na cultura e no “mundo melhor de amanhã”.
Para os consumidores, além da fruição das obras, a presença constante delas no dia a dia das moradias ou locais de trabalho reforça o entendimento de que a arte é para todos e contribui para o acesso à informação e aculturamento sobre o tema. A atenção que se deve ter, alerta Ana Penso, é para que o atributo artístico não se torne uma “trend” ou um “fetiche” do mercado.
"O que me anima [nesse cenário] é a busca, o resgate dos valores clássicos do belo. Nos tempos da Grécia e Roma, havia uma valorização extrema da escultura e da pintura. Esse movimento das incorporadoras é um retorno a esse culto da beleza”, conclui a designer e pesquisadora.
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